
O cristal se caracteriza por ser uma peça de vidro pura, límpida, cobiçada pelo fato de ter-se cuidados sutis para mantê-lo sempre intacto. Pode até mesmo ser composto de misturas pesadas como sílica, chumbo e potássio, mas sua forma final será sempre bela e sensível. Tê-lo para sempre é sinônimo de proeza e um valor desejável à perpassar por gerações. Mas o que fazer quando perde-se o controle de sua manutenção, quando não sabe mais a medida certa para unir os elementos tão diferentes de sua estrutura, a sílica,o chumbo e o potássio? O vidro racha. Não dá liga, toda uma coleção põe-se em risco. Uma simples taça rachada chocasse em outra e depois em mais outra detonando todo o resto. Para quem sonhou em ter todo um palácio de cristal, este pode ser o derradeiro momento de ter sua portas, outrora original, radiante e de sonoridade incomparável, fechadas para sempre.
O mestre Nelson Rodrigues em seu texto “ A Falecida” , narra o que podemos chamar de falecimento de sonhos ao descrever a dona de casa do subúrbio carioca Zulmira que sem perspectivas de felicidade propõe uma despedida da sua vida até então ao dedicar-se no planejamento de seu funeral. É o fim. Decido parar por aqui por ter esperança de haver mais vida dentro de cada sílica, chumbo e potássio, capaz de recriar um palácio ainda mais belo.
Sobre Zulmira, melhores palavras diria Lucas Neves em 17/07/2009, na Folha de São Paulo:
“ Se despedir de uma vida de dissabores num enterro grã-fino, com crucifixo de cristal, caixão com alças de bronze, cavalos com penachos e tudo mais que houver. De tanto criar expectativa pelo próprio funeral, adoece de fato”
Eduardo Rolim
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