quinta-feira, 17 de maio de 2007

Texto de Alberto Dines do Observatório da Imprensa

CLASSIFICAÇÃO & PUBLICIDADE
Em defesa da lei da selva na terra de ninguém
Por Alberto Dines em 15/5/2007

Os norte-americanos criaram os neo-cons, neo-conservadores, turma da pesada cujo símbolo é o dedo no gatilho – primeiro atiram e depois perguntam quem vem lá.
No Brasil, terra dos pudores e manhas, é difícil achar quem queira assumir-se integralmente como neo-lib, neoliberal. Preferem o uniforme "libertário", sem se incomodar em parecer os antigos anarquistas que combatiam qualquer ação reguladora do Estado.
Estes libero-anarquistas detestam normas, limites e ordenações, prostrados aos pés do Deus do Mercado e de sua cônjuge, a Deusa Livre Iniciativa. Usam o crachá de democratas, mas desprezam solenemente o bem-comum, o interesse público, a comunidade e a sociedade.
Esse é o mix ideológico do estranhíssimo lobby que reúne os adversários da classificação indicativa da programação de TV e da regulamentação da publicidade de cervejas na mídia eletrônica. O denominador comum é o rancor contra qualquer tipo de regulamentação. Em nome de uma liberdade imprecisa e indefinida, advogam a lei da selva.

Compromissos esquecidos

A classificação indicativa da programação da TV, assim como o controle sobre a publicidade de bebidas alcoólicas, está prevista de forma explícita e insofismável em diversas passagens dos artigos 220 e 221 da Constituição:

** "Compete à lei federal regular as diversões e espetáculos públicos, informar sobre a sua natureza e as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada (art. 220, parágrafo 3º, inciso I).

** "Compete à lei federal estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no artigo 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente." (art. 220, parágrafo 3º, inciso II).

** "A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais nos termos do inciso II do parágrafo anterior e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso." (art. 220, parágrafo 4º).
O citado artigo 221 prevê no seu inciso IV que a produção e programação das emissoras de rádio e TV devem respeitar "os valores éticos e sociais da pessoa e da família".
O legislador-constituinte não foi casuísta, foi preciso. Excepcionalmente claro e objetivo. Não deixou qualquer contradição entre a letra e o espírito da lei como muitas vezes acontece. Preocupado com o uso indevido das concessões de rádio e TV – e com as confusões costumeiras entre o público e privado – amarrou muito bem a regulamentação sobre a programação e sobre a difusão de publicidade nociva à saúde. O interesse comercial não pode impor-se ao interesse social, sobretudo numa esfera claramente pública (o espectro da radiodifusão).
Os juristas contratados pelas cervejeiras, empresas de radiodifusão e de propaganda desta vez precisarão suar as suas camisas de seda para encontrar aquelas famosas brechas ou imprecisões que convertem nossas leis num emaranhado de lapsos. Estranha muito que o Conar, geralmente apontado como paradigma de auto-regulamentação, no caso dos comerciais de cerveja esqueça os seus compromissos com a saúde pública, seduzido pelas fabulosas verbas de publicidade das cervejeiras.

* saibam mais sobre este tema em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=433JDB001

3 comentários:

  1. Qualquer país descente no mundo tem uma portaria ou um órgão que regulamente claramente o conteúdo de publicidade e programas de TV. Isto não é Censura, como vem sendo chamado pela Rede Globo de Televisão, e sim respeito, sobretudo aos profissionais da área de comunicação. Tem muito curso de Comunicação por aí que terá a obrigação de exigir mais de seus alunos (e professores)caso uma regulamentação mais rígida seja posta em prática. Emfim, temos que ter consciência que os anos da Ditadura já passaram e que vivemos numa democracia e , portanto não podemos deixar um monópólio (lê-se Rede Globo) ditar as regras do que se deve ou não ser assistido ( o que de fato acontece). Assim , nosso comportamento também é condicionado. Abram os olhos, rapaziada!!!

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  2. Olá, queria saber sua opinião a respeito de um fato, concordo plenamente que existe um monopólio por parte da Rede Globo, mas os braços dela cresceram a tal ponto que já alcançam o conteúdo apresentado pelas outras emissoras? Eu raramente encontro algo assistível nessas outras e honestamente não acho que seja por incompetência ou falta de recursos, apesar de não terem toda a estrutura Global, elas poderiam sim apresentar um conteúdo que superasse em muito a banalidade que se vê. O que você tem a dizer sobre isso?

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  3. Marcelo, a competitividade predatória existe não só neste meio, mas também em qualquer outro mercado. O fato da gigante - Rede Globo - ter condicionado o modo de nós( brasileiros) vermos televisão faz com que tenhamos dois caminhos nas outras emissoras: ou escracha pra ganhar na audiência ou copia o "Padrão Globo de Qualidade". É o que fazem os senhores Silvio santos e "Bispo" Macedo. Capacidade temos. Somos reconhecidos internacionalmente como ótimos profissionais de Comunicação, mas ter ousadia, influência e dinheiro pra superar a Globo, é outra história. Aí vc me pergunta: O que fazer, então?? Eu te respondo: Com alternativas que mobilizem e modifiquem a forma de "lê" o mundo. Isto já é uma realidade com vídeo clubes, ongs (sérias), escolas de audio-visual, blogs, jornais de bairro, etc. Até mesmo as grandes emissoras já se deram conta disso e abriram suas programações , mesmo que timidamente, para programas como "Central da periferia", "vidas opostas" e "Profissão repórter". Neles,produtos de trabalhos populares são colocados para o grande público. Mas atenção para não deixar o seu olhar passar desabercebido por estes fatos por causa do condicionamento imposto pelo "Padrão Globo de Qualidade".

    Um abraço.

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